Já “Morro” de Saudades

Não, queridos! Não traí o movimento. Minha passagem pelo carnaval baiano obviamente não foi no “fervo” de Salvador. Só passei pela capital para pegar o catamarã rumo a Morro de São Paulo, ilha do arquipélago de Tinharé onde não se chega de carro. De catamarã foram 3 horas de viagem. Dormi a primeira hora um tanto desconfortável nas cadeiras da embarcação e passei as outras duas na proa, sob o sol forte e com a mente vazia diante de tanto mar. Aliás, há muito tempo eu não sabia o que era ficar tanto tempo sem pensar em nada só olhando pro horizonte. As boas impressões começam quando já se é possível visualizar a ilha ainda na embarcação. Muito verde, um farol e casas bonitas. As más impressões já começam também na chegada: os turistas são abordados por dezenas carregadores de malas com seus respectivos de mão. Podemos ver a subida íngreme e sabemos de antemão que não existem ruas asfaltadas e assim, rodinhas das malas são completamente inúteis. No site de informações da ilha aconselha-se a negociar o preço com os carregadores, mas eles se aproveitam da quantidade de gringos, do cansaço de 3 horas de mar aberto e da taxa obrigatória de R$ 10,00 referente à taxa de turismo e empurram esse valor como se fosse tabelado. Mas esse é o único senão de Morro: tudo é capitalizado. Como a ilha é destino certo de europeus e israelenses (muitos israelenses, sério) os preços acabam um tanto inflacionados e existe pouca gentileza. Mas relaxe, não é nada que tire o brilho da viagem.

Ficamos na pousada Sarifa do Morro e logo na chegada no fim da tarde já pulamos na convidativa piscina do lugar. Os funcionários são nota 10: a Joyce, o Lula (que também é instrutor de mergulho), o Adriano e o Cris que de tão faz-tudo, também é cozinheiro de mão cheia de doces e salgados. A Safira fica entre a Primeira e a Segunda Praia. Sim, as praias não tem nome e são conhecidas por Primeira, Segunda, Terceira e Quarta. É possível chegar em todas elas a pé. Só tem mesmo que preparar a canela porque haja ladeira e escadinhas. Praias e passeios de dia, Vila à noite. É até possível comer nas praias, mas para comer muito bem, tem que ir mesmo à Vila. Lá, a cada refeição você tem vontade de ajoelhar a agradecer a Deus por estar vivo. Baratinho tem o Sabor da Terra, dos mesmos donos da Safira que serve comida baiana por kilo, à la carte e PF. Na mesma faixa de preço e com um tanto mais de refinamento você acha o Ponto de Encontro, procure a simpática Renata e peça uma Tortilha de Cebola Caramelada ou um Crepe de Filé au Poivre. Tem música ao vivo do próprio restaurante e do restaurante vizinho, que se revezam na cantoria típica dos barzinhos brasileiros. Gastando um pouquinho mais você pode ir ao Mar dos Corais, da Chef Marluce. Lindo e delicioso, bem de frente para a Feira de Artesanato da Vila, eles servem cozinha internacional por um preço bastante razoável. Destaque para a cocada de forno com sorvete de abacaxi.

O que eu recomendo fortemente é o El Sitio. Lá você vai conhecer a Veronika, da Letônia para a Bahia, que fala seis idiomas e é uma simpatia só. Especializado em carnes e massas, serve a melhor banana flambada que já sonhei saborear na vida. Você ainda lê recadinhos do mundo inteiro nas mesas, cadeiras e paredes do lugar. Peça a caneta pilot e deixe seu recado também! Nessa altura você você já deverá estar ouvindo uma forte e gostosa batucada. Não se espante: bem em frente ao El Sitio fica o carrinho de Pastel do Foom e é o próprio Foom que arma a batucada. Atenção para o Vitor, que toca violão com uma maestria que poucas vezes vi na vida! Como dizem os baianos, o garoto é Massa! Coma um pastel, tome uma caipirinha e dance alegremente bem ali no meio da rua mesmo músicas do Brasil inteiro. Show de Bola!
Estou longe de ser especialista em frutos do mar. Procurei por uma lagosta e me recomendaram o Sambass Café. Fica no comecinho da Segunda Praia e eu repasso a recomendação sem medo. Se der sorte, você será atendido pelo Lui, um baiano arretado e super atencioso. Prepare-se para desprezar as moscas (lembre-se que você estará na areia da praia) e deguste uma saborosa e bem servida lagosta por menos de R$ 50,00. Delícia!

A noite em Morro não tem muitas opções. Os bares e restaurantes à beira mar até que tinham suas programações. Rolou um lual e uma festa patrocinada pela Skoll. E existem duas casas noturnas, a Pulsar e a Toca do Morcego, e o Teatro. As duas casas noturnas ficam bem próximas uma da outra, bem pertinho da Vila. Já o Teatro fica a mais de meia hora de caminhada e uma escadaria de aproximadamente 200 degraus. É preciso muita atenção e paciência porque o atendimento não é grande coisa em nenhuma delas. 
A estadia valeu cada minuto. Morro de São Paulo é lindo e nunca vi tanta gente bonita junta num lugar tão pequeno. Fizemos de tudo por lá, menos passeio de barco em volta da ilha que me arrependo de não ter insistido mais para fazermos. Voltei revigorada para mais uma reviravolta na vida e pronta para todos os desafios que devem se revelar em breve. O fato é que deveria ser absolutamente proibido morrer sem conhecer Morro de São Paulo. Eu, já “Morro” de saudades…

2 comments on “Já “Morro” de Saudades”

  1. Ferno Responder

    Só falta a nota final: Claudia Simas viajou a convite da Secretaria de Turismo da Bahia. Igualzinho às reportagens do caderno de viagens dO Globo.
    Parabéns pelo relato.
    Bjo.

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