Na madrugada

Algum lugar sobre a Bahia ou sobre as Minas Gerais. Relaxada, como mandou o moço e escutando suas escolhas. Decolei ouvindo que o céu era de uma só cor e pareceu conveniente. No corredor, já chegava o cheiro do café forte típico de companhias aéreas. Apenas viajo, física e musicalmente, sem notícias recentes das madrugadas que acalentavam. Agora alguém diz no meu ouvido que quer cantar cravando a mão no coração e esquecendo todos os clichês. O cheiro se intensifica. Café sempre acende meus sentidos. E o príncipe ginga pra dizer que basta apenas um beijo. Um beijo. Olhos fechados e eu até sinto esse beijo, desejado, precisado, tantas vezes narrado, mais que imaginado. Agora nele haveria uma língua com gosto de café. We’ll never gonna survive unless we get a little crazy. E é óbvio que somos loucos. Por isso sobrevivemos, cada um no seu trato ou não trato. Começa Led e eu rio, porque era óbvio que ia ter Led, que trouxe certa feita uma torrente de confissões jamais verbalizadas. “Impossível não sentir tesão vendo duas mulheres gatas dançando Led Zeppelin”. Acho que foi isso o que respondeu. O cheiro de café sumiu e agora me sinto tola, imaginando coisas, aquelas mesmas coisas que descobri dia desses que não imaginava sozinha, mas tola mesmo assim.

Diminua as luzes, baixe suas cortinas. O que são as cortinas se já baixei a guarda? Lamento a falta de (mais) contato e me lembro por que evito esses tratos quando do outro lado não há tratos. Algo me diz que vale a pena confiar e do nada estou num campo de morangos onde nada é real. Nada faz sentido. Rio novamente. Mais uma viagem. Me agarro ao que existe, que sei ser explosivo, pulsante ainda que apenas na promessa. Do you think you can tell? Entre tantas possibilidades, tantos cenários, tanto tesão descrito em detalhes enebriantes, talvez no fim não tenhamos o que dizer. Isso porque algo realmente grande está perto de surgir – e eu preciso sim, que surja, que acontece – e pode acabar com o que nunca começou. Ou começou mas não aconteceu. Bom, when it’s good, it’s so, so good. When it’s gone, it’s gone.

Compartilhei segredos, confissões, mas não dividi meus demônios. Asy soy yo. E esses demônios devem me empurrar pra longe. Uma outra viagem – essa literal. Talvez até uma aterrorizante mudança no meu trato… Outro segredo meu que o moço sequer imagina pois foi a crença no cumprimento desse trato que o trouxe até mim. Talvez a gente converse sobre isso, talvez não. Mais provável que não pois que me conforta sermos amigos sem sermos amigos. Nesse momento, acho que ainda sobre as Minas Gerais, a verdade é que eu não sei para onde estou indo. Sem viagens. Sem metáforas. Sem café. (Un)Comfortably numb. Pink Floyd sabotou o random e isso me arranca um sorriso.

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