Carta para Priscilla

Caríssima Prill,

O primeiro impulso foi te escrever de próprio punho. Buscar endereço, código postal e selo. Escolher papel de carta e envelope. Procurar a caneta que não mancha e resgatar a caligrafia redonda e caprichada. Mas aí eu já cansei, como tenho cansado de tudo. Mais verdade seria dizer que tenho me cansado do nada. Aquele vilão da História Sem Fim que cismou de me atazanar a vida. 

Não, no alto de sua lindeza você não tem lido tudo errado. Eu odeio escrever ais-de-mim, mas por alguns muitos momentos era só o que me saía dos meus pensamentos tolos para o mundo. Entre aquelas vírgulas e pontos que lhe chamaram atenção, desejei desesperadamente despejar a carência então exagerada pelos 163 quilômetros de complicações fabricadas e pelos dez graus a menos de calor. Foi muito mais forte que eu, amiga, e me arrependo disso. Porque não fosse a distância, era eu que estaria num café cobrando sua presença, lembra? Mas hoje me sinto mais egoísta, mal resolvida e menos generosa. E depois dos seus recados, envergonhada.

Sim, minha querida, me envergonho das minhas fraquezas diante de demonstrações simples de carinho. Me toma inteira o constrangimento imediato daquele que vislumbra a própria tolice. Porque sim, é disso que se trata: são muitas e muitas tolices! Todo esse nada vilão do meu cotidiano se dissipa frente à primeira lembrança dos meus amores. E quantos e tantos maravilhosos são esses amores! Me destrói constatar que, por tão pouco, permito que esses amores desapareçam como que por trás daquela densa neblina avaloniana que maldigo toda fria manhã.

E por isso te agradeço, por essa reprimenda – ainda que involuntária – que me chama o juízo e me esfrega na cara amassada toda a fortuna esquecida. E tomo a liberdade de agradecer-lhe assim, para o mundo ver, porque você também é um desses amores. Daqueles intensos e deliciosos e que não se deve dar o luxo de perder de vista só por causa da distância. Acredite, estou bem. E prometo me lembrar mais vezes disso. Também te adoro, minha querida!

Com muitas saudades,

Cláudia

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