Nossa AIDS Nacional

O Brasil é mesmo um país de moda. A da vez é apanhar parlamentar ou algum de seus assessores carregando malas de dinheiro. Aí eu me pergunto: será que só agora as câmeras de TV descobriram esse espetáculo ou nossos queridos representantes enlouqueceram de vez, achando que é melhor esconder logo a sua bufunfa antes que a coisa encrespe de vez? Imagino os rostos canastrões, catando apavorados suas mini-fortunas de dentro dos colchões, enfiando-as nas cuecas e correndo para “algum lugar seguro fora dos holofotes”. A angústia é tanta que só mesmo rindo. Chega a ser patético. E ainda por cima, ter que reconhecer que a explicação menos absurda veio da Igreja Universal: dízimo.

Pior do que a crise política, crise econômica, crise da segurança pública, crise da educação, crise da saúde e sabe-se lá mais quantas outras, é crise da credibilidade, a crise da banalização. A crise que é conseqüência da falta de fé em nosso país, da perda da esperança de que um dia vamos ser um país decente, justo para todos, de que um dia vamos ser respeitados como povo, como eleitores, como seres humanos antes de qualquer outra coisa. Estamos tão acostumados com nossas tragédias cotidianas que não nos assustamos mais com tiroteios, não nos chocamos mais com políticos corruptos e greves em escolas, hospitais ou outros serviços públicos já fazem parte do nosso calendário anual. É como se estivéssemos adoecendo aos poucos, como se estivéssemos com AIDS, a doença impediedosa, que desaparece com as nossas defesas. Sobrevivemos graças à sedativos. Nossa morfina é a banalização, nossa anestesia é o nosso próprio bom humor, em grandes doses, que satiriza qualquer situação e anestesia essa angústia cortante que cresce a cada noticiário. Até quando? Até acharmos a vacina, espero.

2 comments on “Nossa AIDS Nacional”

  1. Ferno Responder

    Pois é… Parece que não tem fim. É direita, é esquerda… a ocasião faz mesmo o ladrão. E quem paga o pato é o povo. Bjs. Ferno.

  2. Sérgio Responder

    Oi Claudia.
    Esse seu texto foi uma das coisas mais inteligentes que li ultimamente.Concordo com você em gênero, número e grau e não vejo outro caminho a não ser a indignação popular, organizada e silenciosa e essa é feita apenas através do voto.Perfeitas foram tuas colocações o que, sinceramente, não me espanta e nem me surpreende conhecendo você como eu conheço.Parabéns !!!
    Beijos

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